quarta-feira, 23 de janeiro de 2008

Infanto-juvenil para além do Harry Potter


O público infanto-juvenil no Brasil atualmente anda bem esquecido pelas editoras. Estranhamente, porque a febre Harry Potter provou que há uma garotada seriamente comprometida com leitura e que faz os pais pegarem filas na madrugada para ver um rostinho feliz. Em vez de publicar as traduções do Potter e de livros como "Desaventuras em Série" e "O Diário da Princesa" (todos ótimos mas mega-distantes daqui), poderíamos começar a valorizar e estimular os grandes autores nacionais desse gênero. E eles não faltam.
Na década de 80, os títulos mais disputados eram os livros da série Vagalume. A coleção de livros da editora Ática tinha mais de 40 obras todas voltadas para o público adolescente. Entre eles, “Tonico”, "Bem vindo ao Rio", "Doza horas de terror" e outros.
Alguns autores tinham destaque como Lúcia Machado de Almeida. Eram dela os livros de suspense e policial "Aventuras de Xisto", "O Escaravelho do Diabo" (um assassino misterioso começa a matar os ruivos de uma pequena cidade) e "O Caso da borboleta Atíria" (algum inseto da floresta está ameaçando a vida de Atíria e ela tem pouco tempo para descobrir a verdade). O melhor das histórias era que a linguagem estava totalmente direcionada para os adolescentes, sem falsos moralismos que deixam os livros recomendados no colégio tão chatos.
O meu escritor preferido da Vagalume era o Marcos Rey. Seus protagonistas eram um trio de amigos, Léo, Gino e Angêla que resolviam crimes perigosíssimos. E antes de todo o discurso politicamente correto, Gino era um cadeirante genial. Com eles três, a série tinha "Um cadáver ouve rádio", "O mistério dos cinco estrelas" e "O rapto do garoto de ouro".
Outro autor fantástico pra garotada, embora não fosse publicado na Vagalume, é Pedro Bandeira. (E eu tenho um livro autografado dele em plena Feira do Livro de Fortaleza!) O Pedro criou um grupo de adolecescentes chamado de "a turma dos Karas". Eles tinham altos códigos secretos (como a linguagem tenis-polar -eu escrevia minha agenda nela, confesso), locais de encontro só conhecidos por eles na escola e coragem e determinação pra se meter em confusão.
Os Karas apareceram pela primeira vez em "A Droga da Obediência". Depois percorreram o país batalhando contra contrabandistas em "Pântano de Sangue" e contra nazistas em "Anjo da Morte". O último livro que li com eles foi "A Droga do Amor". O ritmo era completamente frenético, eles eram cinco e os cinco sempre enfrentavam grandes perigos ao mesmo tempo na história sem . Sim, crianças enfrentando perigos em uma escola, você já viu em algum lugar...
O Pedro Bandeira também tem vários títulos infanto-juvenis onde ele adapta grandes clássicos da literatura. A tragédia de Hamlet vira o problema de uma menina que perdeu a mãe em "Agora estou sozinha" e Cyrano de Bergerac foi transferido para "A marca de uma lágrima".
A Vagalumes não está mais nas livrarias, mas em sebos e no Mercado Livre, você sempre acha algum. Muitos dos títulos foram republicados fora da coleção como os da Lúcia. Também é possível comprar os livros do Marcos Rey no site dele: www.marcosrey.com.br.

Nenhum comentário: