quinta-feira, 31 de janeiro de 2008

Dicas para ler e assistir no Carnaval


E quem vai ficar em casa no Carnaval, tem sempre muito a ler, e também pode assistir. Minha recomendação é o livro "Quatro Estações" do renomado, reconhecido e temido Stephen King. O homem anda tão famoso que o comentário é que até a lista da lavanderia se vier com o nome King vira bestseller. Inclusive, o nome dele vem bem maior que os títulos nas capas...

Publicado pela primeira vez em 1983, "Quatro Estações" foge da linha terror que tornou o autor tão conhecido. São quatro histórias um pouco maiores que contos, cada uma relacionada a uma estação. Os norte-americanos chamam a esse tamanho de texto "novel", que não dá pra traduzir com novela pra gente. Das quatro, três viraram filmes maravilhosos. O King tem muita sorte com as adaptações dos livros dele, a gente pode conferir em "Cemitério Maldito", "A espera de um milagre" e muitos outros. Esses três em particular são marcantes.

A primeira história do livro é "Primavera eterna – Rita Hayworth e a redenção de Shawshank", sobre um homem que é preso pelo assassinato da esposa e do amante dela. Na prisão, seus talentos para a contabilidade são utilizados pelo diretor enquanto ele descobre o valor da amizade e da liberdade ali dentro. O filme "Um sonho de liberdade" (The Shawshank Redemption) foi feito em 1994 com direção de Frank Darabont e as atuações de Morgan Freeman e Tim Robbins . Quem não assistiu ainda a esse, pode alugar sem a menor hesitação. É emocionante.

Na segunda parte, o lado negro da juventude é explorado por "Verão da corrupção – Aluno inteligente". Um rapaz de treze anos descobre que um de seus vizinhos é um torturador nazista procurado. Em vez de entregar o homem, o menino passa a chantageá-lo em busca das histórias que compuseram o III Reich. Esse filme não fez sucesso como o "Sonho de Liberdade", mas também é muito bom. "O aprendiz" ( Apt Pupil) foi lançado em 1998, com Ian McKellen, Brad Renfro e David Schwimmer. Bryan Singer dirigiu a adaptação que tem um final diferenta na tela.

Na minha história preferida das quatro, "Outono da inocência – O corpo", a amizade é o carro-chefe da narração. Um grupo de amigos resolve fazer uma viagem de um dia até um ponto da floresta em que supostamente existe um corpo. O encontro dos jovens com a primeira perspectiva de morte e suas ânsias de juventude foram magistralmente retratados no filme "Conta Comigo" (Stand By Me). Esse aqui estourou nos cinemas, sendo considerado o filme que revelou o jovem River Phoenix (que depois teria uma overdose e morreria muito cedo). O filme é hoje um clássico, foi feito em 1987 e tem ainda a participação de Wil Wheaton, Corey Feldman, Jerry O`Connell, e de um novinho chamado Kiefer Sutherland. A direção é de Rob Reiner.

Na última história, que é a que eu menos gosto porque fala muito pouco sobre a natureza humana e vai mais para o lado do sobrenatural, "Inverno no clube – O método respiratório" mostra a luta de uma jovem mãe solteira para ter seu filho. Ainda não virou filme. Ainda.

- Quatro Estações
Stephen King (Objetiva)
Preço médio: R$ 39,00 nas livrarias

segunda-feira, 28 de janeiro de 2008

O vazio que você deixou...

O ano começou carente para quem gosta de ler e se informar sobre leitura. Esse foi o primeiro mês, após 32 números, que ninguém leu a revista Entrelivros. A Editora Duetto cancelou a publicação por causa das baixas vendas. A revista, que começou em 2005, com tiragem entre 10 e 15 mil exemplares estava com menos de 10 rodando. Os assinantes receberam em dezembro um e-mail assinado pelo gerente de assinaturas da Duetto informando do fim da publicação e afirmando que receberiam correspondência a partir de janeiro para resolver questões financeiras (afinal, eles já pagaram né?). Aliás, alguns assinantes receberam, outros estavam pela página do Orkut se maldizendo e eu, por exemplo, não sou mais assinante e recebi também.

A Duetto vai continuar com a marca "EntreLivros", para as publicações especiais "Caderno EntreLivros" e "Biblioteca EntreLivros". O complicado é que a maior propaganda das publicações especiais era a revista mensal. Como o leitor vai saber sobre elas agora? O site www.revistaentrelivros.com.br continua sem nenhuma referência ao fim dela. A última postagem no blog mantido pela editora, no entanto, foi em 12 de novembro.

Pessoalmente, eu tinha parado de assinar a Entrelivros extremamente chateada com ela. Primeiro, eles deixaram de publicar a coluna do Umberto Eco, que fechava a revista, sem a menor explicação ao leitor. Nem uma palavra no Editorial, nem no rodapé da coluna que substituiu. Acho que esperavam que ninguém notasse. Mandei um e-mal para a Redação e um mês depois me responderam que houve uma mudança de linha editorial (vamos combinar que faltou dinheiro, né?). Depois, a coluna voltou.

E a distribuição era um pesadelo. A revista de janeiro chegava em fevereiro, de fevereiro em março e a de março em abril. Aí cancelei.

Uma lástima que uma editora que já havia tido a coragem de sair com um material de qualidade para um público tão específico e pequeno no Brasil não atentasse para questões básicas e primordiais como distribuição e atendimento ao leitor. Os textos eram ótimos e eu tinha colunistas como Milton Hatoum e o próprio Eco.

Para quem gosta de ler sobre ler as opções são poucas. A Cult, que surgiu há dez anos como revista literária, hoje é de cultura em geral e muito existencialismo. A proprietária Dayse Bragantini disse em entrevista ao jornal O Globo que a tiragem é de 25 mil exemplares dos quais 30 % ficam no mercado paulista. O resto vai principalmente para o Sul do país. Segundo ela, as vendas no Rio de Janeiro são um fracasso. Vamos nem imaginar no Nordeste. Há seis anos, a revista quase fecha. Foi quando Dayse a comprou da Lemos Editorial. O site é http://revistacult.uol.com.br.

Já a Bravo é uma revista de quase tudo de cultura no Rio e em São Paulo. A área de literatura é uma entre 15. Eu assinei a publicação por um ano e não conseguia ler as áreas de Artes Plásticas e Teatro porque era só a programação do Centro-Sul. A gente ficava com um gostinho de água na boca... Melhor ler no site deles (www.bravonline.com.br) que comprar a revista inteira. É, 2008 começou carente para quem gosta de ler.

quarta-feira, 23 de janeiro de 2008

Infanto-juvenil para além do Harry Potter


O público infanto-juvenil no Brasil atualmente anda bem esquecido pelas editoras. Estranhamente, porque a febre Harry Potter provou que há uma garotada seriamente comprometida com leitura e que faz os pais pegarem filas na madrugada para ver um rostinho feliz. Em vez de publicar as traduções do Potter e de livros como "Desaventuras em Série" e "O Diário da Princesa" (todos ótimos mas mega-distantes daqui), poderíamos começar a valorizar e estimular os grandes autores nacionais desse gênero. E eles não faltam.
Na década de 80, os títulos mais disputados eram os livros da série Vagalume. A coleção de livros da editora Ática tinha mais de 40 obras todas voltadas para o público adolescente. Entre eles, “Tonico”, "Bem vindo ao Rio", "Doza horas de terror" e outros.
Alguns autores tinham destaque como Lúcia Machado de Almeida. Eram dela os livros de suspense e policial "Aventuras de Xisto", "O Escaravelho do Diabo" (um assassino misterioso começa a matar os ruivos de uma pequena cidade) e "O Caso da borboleta Atíria" (algum inseto da floresta está ameaçando a vida de Atíria e ela tem pouco tempo para descobrir a verdade). O melhor das histórias era que a linguagem estava totalmente direcionada para os adolescentes, sem falsos moralismos que deixam os livros recomendados no colégio tão chatos.
O meu escritor preferido da Vagalume era o Marcos Rey. Seus protagonistas eram um trio de amigos, Léo, Gino e Angêla que resolviam crimes perigosíssimos. E antes de todo o discurso politicamente correto, Gino era um cadeirante genial. Com eles três, a série tinha "Um cadáver ouve rádio", "O mistério dos cinco estrelas" e "O rapto do garoto de ouro".
Outro autor fantástico pra garotada, embora não fosse publicado na Vagalume, é Pedro Bandeira. (E eu tenho um livro autografado dele em plena Feira do Livro de Fortaleza!) O Pedro criou um grupo de adolecescentes chamado de "a turma dos Karas". Eles tinham altos códigos secretos (como a linguagem tenis-polar -eu escrevia minha agenda nela, confesso), locais de encontro só conhecidos por eles na escola e coragem e determinação pra se meter em confusão.
Os Karas apareceram pela primeira vez em "A Droga da Obediência". Depois percorreram o país batalhando contra contrabandistas em "Pântano de Sangue" e contra nazistas em "Anjo da Morte". O último livro que li com eles foi "A Droga do Amor". O ritmo era completamente frenético, eles eram cinco e os cinco sempre enfrentavam grandes perigos ao mesmo tempo na história sem . Sim, crianças enfrentando perigos em uma escola, você já viu em algum lugar...
O Pedro Bandeira também tem vários títulos infanto-juvenis onde ele adapta grandes clássicos da literatura. A tragédia de Hamlet vira o problema de uma menina que perdeu a mãe em "Agora estou sozinha" e Cyrano de Bergerac foi transferido para "A marca de uma lágrima".
A Vagalumes não está mais nas livrarias, mas em sebos e no Mercado Livre, você sempre acha algum. Muitos dos títulos foram republicados fora da coleção como os da Lúcia. Também é possível comprar os livros do Marcos Rey no site dele: www.marcosrey.com.br.

terça-feira, 22 de janeiro de 2008

A Mulher habitada


"Duas coisas que não decidi acabaram decidindo minha vida: o país onde nasci e o sexo com que vim ao mundo", disse a autora nicaragüense Gioconda Belli. Agora responda rápido: onde fica a Nicarágua? Eu não sei se é coisa minha ou de todo brasileiro, mas vivo com a certeza de um profundo desconhecimento sobre a América Latina. Tanto política como culturalmente. Pois vejam que descobri uma autora fantástica. Bem aqui na América Central.
"A mulher habitada" é um romance dessa autora que trata de questões políticas, de gênero, de relacionamento humano e de descobrir quem você é no meio dessa confusão que é o mundo.
O espírito da índia Itzá reside em uma laranjeira de onde assiste, na década de 70, à chegada da arquiteta Lavínia a uma nova casa. A índia, por amor ao guerreiro Yarince, deixou seu papel de mulher de aldeia para lutar contra o exército espanhol que invade a América no século passado. Lavínia acabou de chegar da Europa, arrumou emprego em um escritório respeitado e despertou para a realidade imposta pela ditadura entrando no movimento de guerrilha. As histórias são apresentadas por dois narradores: Itzá relembra sua vida (e comenta a de Lavínia) enquanto um narrador nos traz a história da arquiteta e das transformações impostas ao país.
A retratação do período da ditadura militar é perfeita. E a descrição de como corre a vida em Fáguas (país fictício da história) espanta pela similariedade entre a Nicaráguas e o Brasil. Todos no mesmo barco das convenções sociais e censura de pensamento e de voz .
- A Mulher HabitadaPublicar postagem
Gioconda Belli (Record)
Preço médio: R$ 54,00 nas livrarias
Estante virtual: De 20 a 25 reais (sem frete) (valeu pela dica do site, Cris)

segunda-feira, 21 de janeiro de 2008

Isso que é profissional

Enquanto as editoras brasileiras insistem que 40 reais é um preço justíssimo para os bolsos brasileiros, a indústria editorial norte-americana aposta em acessibilidade. Lá, os livros são divididos em dois formatos: hardcover, livros de capa dura, excelente impressão e preço alto; e paperback. Os mesmos livros hardcovers são publicados em formato pequeno com capa mole e em papel de qualidade muito parecida com a de jornal. Sabe aqueles Sabrina de banca? Pois imagine, são esses!
O grande lance é que o paperback custa uma média de 7 dólares, dependendo do autor. Isso se for lançamento, nos sebos eles ficam em torno de 3 dólares. Já pensou pagar seis reais por um bom lançamento? O resultado é um público leitor tão forte que os autores são verdadeiras celebridades e as editoras são muito tranqüilamente as mais ricas.
O negócio é tão profissional que o escritor Dean Koontz, autor de suspense já acostumado a ficar meses na lista dos mais lidos do New York Times, tem um site praticamente para cada livro e usa trailers para divulgar seus lançamentos. Isso mesmo, trailers de livros. Dá uma olhada no do próximo dele: "Brother Odd". Fica no http://www.oddthomas.tv/.

domingo, 13 de janeiro de 2008

O Deus das Pequenas Coisas


"O Deus das Pequenas Coisas" é, em meio a tanto já lido, uma das melhores obras que já encontrei.

A indiana Arundhati Roy escreveu uma preciosidade. A história dos irmãos gêmeros bivitelinos Estha e Rahel tem início na década de 60, na mesma localidade em que Roy viveu, Kerala (Índia). Hoje, a autora vive em Deli e tem status de posptar no país, inclusive integrando a lista das 50 pessoas mais bonitas, vê se pode? Não temos nenhuma outra obra dela traduzida em português (essa foi publicada em 1998) e, pelo que pude pesquisar, apesar de muitos artigos e crônicas, não vi outro livro dela publicado nem na Índia. Foram dez anos para escrever esse.

No livro, a Índia está em pleno processo de transformação. O ocidentalismo chega ao país nos modismos, programas de rádio e televisão enquanto as tradições religiosas ainda marcam o compasso da vida de seus habitantes. Enquanto isso, duas crianças de nove anos vivem o terror de ver uma outra criança tomar a atenção e carinho de seu tio, o único pai que elas conhecem. A sua mãe, Ammu, é a única divorciada da pequena aldeia e se destoa no meio em que vive, sufocada na casa da própria família ao mesmo tempo que encanta como fada a vida de "uns certos gêmeos bivitelinos".

A narrativa é apresentada de forma completamente não-linear. Os capítulos se alternam pincelando uma a uma as tragédias sofridas pela família com a vida deles ao longo de mais de dez anos. Vou logo dizer que a história é bem triste, mas a autora guarda para o último capítulo um pedacinho de amor que acalenta todo o livro. É um relato de uma realidade brutalizadora de sonhos de crianças, mas também de sonhos dando esperança à realidade dos adultos.

- O Deus das Pequenas Coisas
Arundhati Roy (Companhia das Letras)
Preço médio: R$ 45,00
Está esgotado em vários sites, mas dá pra comprar no site da editora
Mercado Livre: Tem exemplares de R$ 29,00 até R$ 52,00 (sem frete)