sexta-feira, 30 de julho de 2010

O que sofrem as bibliotecas

Eu não concebo uma pessoa rasgar, picotar ou destruir um livro, mas hoje, conversando com a equipe da biblioteca da Universidade Nova de Lisboa, me choquei com as pessoas.

Primeiro que, de 1994 a 2010, mas de mil (sim, mil) livros da biblioteca de uma universidade pública desapareceram. Os alunos levaram como empréstimos e jamais apareceram de volta. Neste ano, uma senhora graduada há 11 anos apareceu com um livro que ela achou na casa dela ao fazer uma mudança. Essa pelo menos devolveu, mas quantas pessoas não precisaram deste livro, minha senhora? Como órgão público, a biblioteca não tem verba para reposição de tudo que faltou. E pior que de vez em quando nós mesmo encontramos livros com carimbos de biblioteca nos sebos e não dizemos nada. Cúmplices...

Além disso, há os pobres livros vandalizados. Nesta semana por exemplo, pegaram um livro sobre a colonização do Brasil, com formato diferente e páginas costuradas, e arrancaram algumas páginas. Como a costura era forte, as páginas que ficaram estavam rasgadas e amassadas. A biblioteca teve que pedir um volume emprestado a outra biblioteca e tirar cópias coloridas dessas páginas para fazer um "reparo" na obra.

Livro em biblioteca é um dos bens mais democráticos. Está ali sem cobrar, disponível. Pronto para ser consultado, lido, emprestado. Vamos ter cuidado com o próximo leitor.

sábado, 17 de julho de 2010

Penguin Classics se une à Companhia das Letras com missão de lançar os clássicos mais baratos do Brasil

Excelente notícia para quem adora clássicos e anda estourando o cartão com a compra de livros. O selo Penguin Classics acaba de fechar parceria com a Companhia das Letras prometendo os "clássicos mais baratos do Brasil".

Quem gosta de ler em inglês com certeza já teve nas mãos um exemplar da Penguin com capa mole e papel com qualidade baixa, mas não que lhe afete a leitura. A editora é justamente uma dessas especialistas em fórmulas para os livros ficarem baratos. E algumas edições são acompanhadas por prefácios e notas de editor que valem muito a pena. É esse conteúdo editorial que foi o principal no acordo entre as editoras, a Companhia das Letras agora tem acesso a tudo.

Serão 48 títulos em dois anos, 16 de clássicos da língua portuguesa. E a Penguin está analisando obras de Euclides da Cunha e Jorge Amado para lançar no seu catálogo internacional. A matéria saiu publicada no Estadão

domingo, 11 de julho de 2010

Os Íntimos - Inês Pedrosa

Segundo a amiga e escritora Patrícia Reis, Inês Pedrosa é uma mulher que sempre anda carregando na bolsa um livro (como uma arma contra o mundo que a espera) e um bloco de anotações ("Porque sempre pode me aparecer um romance"). Foi munida deste bloco que Inês passou passou meses perseguindo seus amigos homens. Entre almoços e encontros recolhia frases e filosofias. No lançamento do livro no Porto, entre a platéia se encontrava um dos "matéria-prima" para seu romance "On Íntimos", marotamente denunciado pela escritora.

Com esses pedaços de gente, ela construiu cinco personagens masculinos que habitam o universo de Lisboa. Uma Lisboa urbana, mundana e cotidiana. Retratada em comunhão com seu tempo de chuvas torrenciais, vento forte e calor sufocante. Os cinco amigos se encontram para jantar uma vez por mês. Acompanham o jogo de futebol, bebem, flertam com a garçonete. Afonso é oncologista marcado pela tragédia , com pose de galã, relacionamentos confusos e profundos e o principal narrador daquela noite. Guilherme, Filipe, Augusto e Pedro são seus amigos mais próximos e nem por isso mais conhecedores de sua vida. Mas são íntimos. O bastante para rirem uns dos outros, para se confidenciarem e se arrependerem, para não se magoarem se o outro não lhe escutou falar.

A escrita de Inês Pedrosa não deixa que seus "machos" caiam no estereótipo. Os capítulos são construídos de forma que a posição de narrador circula pelos personagens e eles descontróem-se uns aos outros para o leitor revelando as camadas de cada história. Da mesma forma que os amigos reais conhecem as verdades nas nossas mentiras e as mentiras por trás de cada frase. As mulheres aparecem como personagens destas histórias. Povoam tanto o universo masculino como eles povoam o delas.

E revelam-se para o leitor. O que nunca conseguiu amar, o que acaba de descobrir o amor e não sabe o que fazer dele. Sua relação com a paternidade e o amor incondicional e sempre desprezado em prol dos amores maternos. As paixões e as conquistas. Os íntimos são filhos de uma geração que viveu a ditadura e acompanhou a chegada da democracia, que viu aparecer a necessidade do preservativo nos relacionamentos, que hoje alcançou a meia-idade e passa mais tempo a reviver o que se passou do que o presente.

Inês se aventura pela primeira vez nas amizades e relacionamentos de um ponto de vista eminentemente masculino. Em "Nas Tuas Mãos" havia trazido três protagonistas femininas, também dividindo com Lisboa suas vidas.Este também é um livro fincado nas cidades, sai de Lisboa, passa pelo Porto e retorna. Mais uma vez, a autora tem uma escrita clara, sem floreios e carregada de sentimentos. No fim, não há dúvidas, ficamos do lado dos homens.

"Os Íntimos" será lançado pela editora Alfaguara no Brasil em Novembro.
Em Portugal, é editado pela Dom Quixote, tem 272 páginas e custa em média 15 euros.