quarta-feira, 27 de fevereiro de 2008

Mais livros Mais livres


Imagem da campanha das empresa RBS TV, de Santa Catarina, para comemorar o sucesso de doações de livros em 2007. Criada pela agência YO Propaganda. As doações permitiram a criação de um "Espaço do Saber" em comunidade santacatarinense.

sexta-feira, 22 de fevereiro de 2008

Irmãos e duplos

O livro "O Deus das Pequenas Coisas", que traz a história de dois irmãos gêmeos bivitelinos foi comparado por uma amiga com "Dois Irmãos", do Miltom Hatoum. Fui conferir e entendi o comentário. O estilo de narrativa é bem parecido não seguindo uma linearidade de textos e uma forma de narrar com uma delicadeza marcante. Por outro lado, a história amazônica me lembrou muito uma outra obra, "Esaú e Jacó", de Machado de Assis.
Os dois livros tratam de gêmeos univitelinos, idênticos, que carregam uma rivalidade nociva pra eles e todos a sua volta pela vida inteira. Em Miltom, Yaqub e Omar são criados em uma Manaus de mudanças convivendo com a herança da cultura libanesa e o ódio mútuo. Machado nos dá Pedro e Paulo, que já começam a brigar dentro do útero da mãe. A narrativa é muito diferente, como disse, a do Miltom lembra mais Arundhati Roy enquanto Machado... bem, Machado é Machado, né?

Os paralelos são claros: a briga velada e depois declarada dos gêmeos, a disputa pela mesma mulher, as personalidades opostas dos irmaõs e seu desejo de se diferenciar do outro. Até o pedido final que as mães fazem no leito de morte pela paz entre os filhos remete uma história a outra. Sem dúvidas, os dois são ótimos. O do Miltom foi uma surpresa ótima neste ano. Eu já conhecia as crônicas dele, nunca tinha lido romance.

De toda forma, o uso do duplo na literatura sempre volta. Um exemplo fantástivo é o "O Homem Duplicado", de José Saramago. O professor de história Tertuliano Máximo Afonso está tranquilamente assistindo a um filme quando vê um figurante idêntico a ele. Igual. Um duplo! O livro conta a busca do professor por seu duplo, um ator, e o resultado dela. Para quem ainda prefere os clássicos mais antigos, "Retrato de Dorian Grey" sempre será uma obra marcada pela duplicidade, e uma obra séria do maravilhoso e escrachado Oscar Wilde.

E sempre há a primeira das brigas entre os irmãos: Caim e Abel abrem as narrativas bíblicas que depois ainda têm os filhos gêmeos de Isaque e Rebeca, Esaú e Jacó (inspiração para Machado). Rebeca trama com o mais novo roubar o direito de herança do outro filho, depois os dois fazem as pazes e vão servir a Deus. A Bíblia também conta que os irmaõs de José do Egito venderam o rapaz como escravo por ciúme, já pensou? Ainda bem que eu me dou bem com a minha não gêmea irmã. A imagem que ilustra esse post é "A Reconciliação de Jacó e Esaú", de Sir Peter Paul Rubens.

terça-feira, 19 de fevereiro de 2008

Um outro vazio

A literatura de bancas fica cada vez mais rara. O Blog Antena Paranóica nos passa a notícia que a Editora Globo suspendeu a publicação de todas revistas em quadrinhos que publicava.

A Editora atuava nessa área há 70 anos e já publicou clássicos como "Mandrake" (o mágico que defendia a justiça com a cartola, lembram?), "Recruta Zero", "Spirit", "Batman", "Flash Gordon", "Turma da Mônica", "Gasparzinho", "Brasinha", "Tex", "Riquinho", "Homem-Aranha" e "Os Quatro Fantásticos". A matéria completa no site OhaYO!: http://www2.uol.com.br/ohayo/v4.0/Comics/bancasbrasileiras/fev18_globo.shtml.

Me pergunto se as crianças sentirão falta das HQ. Será que nem vão notar?

quarta-feira, 13 de fevereiro de 2008

O Diário de Blindness


"Ensaio sobre a Cegueira" é o que considero o melhor livro do José Saramago. Qual não foi minha surpresa e apreensão ao descobrir que o diretor brasileiro Fernando Meirelles (Cidade de Deus e O Jardineiro Fiel) estava dirigindo a adaptação dele para o cinema, "Blindness". Quando adaptam um livro que você ama, há sempre o terror que algum diretor criativo demais acabe com ele. Por falar nisso, ainda não tive coragem de assistir ao "Amor nos Tempos do Cólera".

Primeiro os dados técnicos (tirados de uma entrevista para o Globo do diretor): Produção internacional independente de Brasil (talentos e dinheiro de uma lei de incentivo), Canadá (projeto e o roteiro), Japão (dinheiro) e Inglaterra (dinheiro e parte jurídica), a história inicialmente seria rodada em São Paulo (BR) e Toronto (Canadá) com orçamento de cerca de US$ 20 milhões e a intenção de estréia em março de 2008.

A alegria superou a apreensão quando o diretor resolveu manter um blog sobre a construção do filme. O "Diário de Blindness" tem poucos bons e longos textos, apenas 14, mas valem a pena tanto para quem não aguenta esperar pelo filme pronto como por quem se interessa por filmes em geral e direção.

Desde agosto do ano passado que Fernando Meirelles tem disponibilizado pedaços importantes dele (a foto que ilustra esse post foi tirada de lá). Podemos acompanhar o processo de aprovação do roteiro pelo próprio Saramago, direção dos atores e figurantes em algumas cenas, processo de montagem e o trabalho no dia-a-dia do set de filmagens. Há também muita informação legal para conferir no cinema, uma das cenas da população cega, por exemplo, foi filmada retratando um quadro do Brueguel.

A gente descobre que as cenas filmadas em Montevideo (Uruguai) acabaram ocorrendo lá porque não dava para fechar as ruas de São Paulo para as centenas de figurantes. E como os atores fizeram exercícios vendados e usavam lentes que cobriam a visão durante algumas cenas para sentirem e reproduzirem a sensação de cegos. Por falar em atores, são todos padrão hollywood: Mark Ruffalo faz o Médico, Julianne Moore a Mulher do Médico, Danny Glover o Velho da Venda Preta e Gael García Bernal o Rei da Camarata 3. Também tem Sandra Oh como a Ministra da Saúde e a brasileira Alice Braga (que fez Eu sou a Lenda) como a Garota de óculos escuros.

Para quem não leu o livro, a história é sobre uma cegueira branca que acomete toda uma cidade. O autor acompanha todas as etapas dela através de um grupo de personagens que são apresentados assim mesmo, sem nomes, só por profissões ou características.

Após algum tempo sem postar (o diretor ficou chateado ao descobrir que seus textos estavam sendo traduzidos para o inglês e distribuídos por toda a Internet), Fernando colocou um texto sobre a trilha do filme. A versão, que já estava na oitava montagem em janeiro, foi combinanda com as músicas compostas pelo grupo mineiro Uakti. Vale a pena dar uma olhada e esperar pelo filme.

sexta-feira, 8 de fevereiro de 2008

"Fazemos quase tudo por um par de olhos"

Estimular a leitura, e não a posse dos livros. Essa é belíssima intenção da Leia Brasil, Organização Não Governamental de Promoção a Leitura. Criada em 1991 como um programa da Petrobras, a instituição passou a responder como ONG dez anos depois. Segundo a ONG, se vende sim muitos livros no Brasil, só que não se lê.

Para quem não acredita, um texto do diretor executivo da LB, Jason Prado, traz dados surpreendentes sobre o mercado editorial brasileiro: "As principais editoras brasileiras pertencem a grupos estrangeiros, os verdadeiros donos do mercado. O setor fatura US$ 1,2 bilhão por ano, metade dos quais do Governo (MEC); entre 92 e 2002 foram comercializados 3,3 bilhões de livros no Brasil, ou seja: 20 por pessoa, 70 por domicílio, 14 mil por escola e 595 mil por cidade, pondo em cheque todas as estatísticas divulgadas. Onde estão?".

"Os livros, sozinhos, não fazem leitores". Por isso, a ONG atua em diversos segmentos. Em seu site www.leiabrasil.org.br estão disponíveis diversos, diversos mesmo, textos sobre leitura e leitores no link “Para pensar a leitura”. Eles são muito úteis para educadores e professores que trabalham nessa área, além de interessantes para quem gosta do assunto.

Além disso, a Leia Brasil desenvolve projetos como caminhões-biblioteca, treinamento de educadores, publicações e projetos de “seduções de leitores”, como contadores de histórias, peças de teatro, shows e encontros com autores. Tudo sob o lema: "Fazemos quase tudo por um par de olhos..."