sábado, 26 de abril de 2008

Quando o jornalismo deixa de dizer

Não tem nada a ver com literatura e foge completamente ao tema do blog. Mas eu sou jornalista.

Demócrito Rocha Dummar, presidente do Grupo O Povo de Comunicação, cometeu suicídio ontem (25/04/08) aos 63 anos em sua residência. Essa foi a notícia que eu não vi nem li.

Eu li sim inúmeros comentários em vários blogs, portais e jornais sobre a morte do Demócrito sem a causa mortis. Minha mãe me ligou hoje pra saber do que ele tinha morrido, um amigo do meu marido também fez aPublicar postagem mesma ligação. As pessoas leram todo o caderno especial do Povo e chegaram a conclusão que não sabiam do que o presidente do Grupo tinha morrido.

Na Internet, só um blog do RN e o Jornal Pequeno do Maranhão colocaram a temida palavra "suicídio". Correção enviada por um leitor: um blog cearense chamado Mirando a Mídia colocou. E inclusive levantou a hipótese que poderia não ser suicídio e sim assassinato. Eu não ouvi falar de dois tiros em nenhum outro lugar, mas falta de informação oficial é assim mesmo, geram-se boatos e eles criam vida só.

Se não era pra dar a notícia inteira, era melhor nem noticiar. Afinal, todo mundo já sabe a verdade e fica a sensação de falsidade ao ler as coberturas. E não vamos dizer que isso não era importante, nunca tinha visto até hoje uma notícia de morte que não citasse a causa. Ah, mas ninguém mentiu, né? Só deixaram de dizer.

Vamos pensar comigo: se fosse um Dias Branco, um Studart ou qualquer outro membro de família tradicional e rica do nosso Estado teria saído que foi suicídio? Se fosse um Queiroz o jornal O Povo teria colocado que foi suícidio?

E se fosse um membro da minha família ou da sua? Será que os jornalistas deixariam de dizer?

Será que nós jornalistas só defendemos a liberdade de expressão e informação quando não nos envolve? Quando é alguém que a gente conhece, conhece a família, trabalha na empresa aí tudo muda. Aí "vamos respeitar a família", tudo bem.

O jornalismo deveria então respeitar TODAS as famílias. Alguém respeitou os Nardoni na chacina pública que fizeram antes mesmo do caso começar a ser apurado? E a Escola Base de São Paulo? Aquilo foi respeito? Quem decide que família respeitar? Quais os critérios? Me pareceu que no dos outros é sempre refresco.... É liberdade de expressão.

Pois é, nada a ver com literatura, mas eu sou jornalista. E estou professora de um bocado de gente que vai ser jornalista também. Ótimo momento para se pensar: afinal, o que é então ser jornalista? Deixar de dizer é ser jornalista?

5 comentários:

Anônimo disse...

Um blog cearense deu, o Mirando a Midia (www.mirandoamidia.blogspot.com)

Anônimo disse...

Concordo. Esse tal de respeito so acontece quando é da familia de ricos desse estado miseravel. Se fosse um comum, tava na capa de O Povo, suicidio...Do tico Dummar, é so silencio, Cearense não tem acesso a internet...

Anônimo disse...

Eugênia, minha professora blogueira, eu estou ainda abalada, é verdade. Mas eu acho que O Povo conduziu bem as notícias e homenagens. Está nas entrelinhas a dor dos familiares e amigos e a forma abrupta da morte. Falar abertamente de suicídio, seja do Democrito ou do Joao dos Anzóis Pereira, pra mim nao se deve mesmo. Nem sei se existe um acordo internacional sobre isso, deve ter, pois quase nunca vejo os casos nos jornais ou TVs. A divulgação nao afetaria a vida de pessoas que acham que o suicídio é a maneira mais fácil? É essa a minha dúvida e receio. Aí você me pergunta, e Getúlio, Andrea? Eu não deveria saber que ele se matou? Realmente nao sei, fico no mesmo impasse. Abraços.

Anônimo disse...

O Mirando a Mídia deu mais detalhes agora há pouco.

Anônimo disse...

Oh seu jornalista, "cuicídio" ???

HAHAHAHHAHAHA!!!

Vai aprender português blogueiro...
Melhor vai pro MOBRAL ou elecurso 2000 analfabeto!